VOTO SECRETO
Tudo que é secreto não corresponde a democracia. O regime democrático exige transparência no que se refere aos palamentares que estão alí representando o povo. Como saberemos se estão representando mesmo o povo com o voto secreto amparados pela constituição ? Não saberemos…
O ato e o voto secreto
Por Carlos Chagas
A história é antiga mas oportuna. Com a Revolução de 1930, estabeleceu-se o voto secreto no país. Três anos depois deu-se a primeira eleição, para a Assembléia Nacional Constituinte. No sertão, um fazendeiro preparou os peões para votar, distribuindo um envelope lacrado para cada um, com a cédula dentro. Antes de entrar no caminhão para levá-los à cidade, um deles, mais ousado, disse ao fazendeiro que gostaria de saber em quem estava votando. Resposta: “seu cabra safado! Não sabe que o voto é secreto?”
Vale o mesmo, hoje, para os atos secretos baixados pelo Senado. Não há um senador que, perguntado, deixe de afirmar que ignorava a existência desses atos. E todos, sem exceção, completam: “se eram secretos, como eu poderia saber?”
Ainda a respeito, haverá pelo menos que reconhecer a ingenuidade verificada nos truculentos anos da ditadura militar. A temporada do absurdo foi inaugurada no Diário Oficial com o seguinte comunicado: “Decreto-secreto número um. Assinado: presidente Garrastazu Médici e ministros Orlando Geisel, Alfredo Buzaid, Delfim Netto e outros.” O conteúdo, soube-se depois, designava o ministro do Exército como chefe e responsável por todo o aparato de repressão no Brasil…
A guerra em diversas frentes
O senador Wellington Salgado, da tropa de choque do senador José Sarney, avisa o PT, as oposições e os dissidentes dos partidos do governo que a guerra tem dois lados. Alerta para o fato de que os defensores do presidente do Senado sabem atirar e passarão da defesa ao ataque, representando contra colegas também acusados de faltar com o decoro parlamentar, hoje insurrectos contra Sarney.
Pode estar enganado o suplente do ministro Hélio Costa, porque as guerras, geralmente, tem mais de um lado. Que o digam os alemães, derrotados em 1918 e em 1945 por fazerem guerra em duas frentes.
No caso do Senado, seu presidente luta contra o PSDB, o DEM e o PPS, mas, ao mesmo tempo, contra setores do PMDB, do PT, do PDT, do PTB e de partidos menores, sem esquecer o ministro da Justiça, diversos governadores, a imprensa e a opinião pública. São exércitos independentes mas voltados, todos, para tomar Berlim (perdão, para destruir Sarney). Depois, começará a guerra-fria.
A pérfida Albion
Caiu a máscara. Diretamente da Inglaterra chegaram ao porto de Santos e foram descarregados 99 containers cheios de lixo. Nada menos do que 1.600 toneladas envolvendo toda sorte de refugo dos lares, até de hospitais, fábricas e casas comerciais da ilha. Diante da reação brasileira, estão inventando tratar-se de um deslize de três empresários ingleses especializados em reciclagem de material aproveitável para novas finalidades. É mais um golpe da “pérfida Albion”, porque nenhum navio deixa seus portos sem documentação precisa do conteúdo a ser exportado. Queriam livrar-se mesmo do lixo, imaginando que o Brasil encontraria meios de absorvê-lo, ainda pagando por ele.
Quando primeira-ministra, Margareth Tatcher sugeriu que as nações pobres e endividadas vendessem suas riquezas para saldar empréstimos. De olho na Amazônia, nos nossos recursos minerais, na água abundante e quem sabe até no petróleo do pré-sal, a bruxa fez sucesso junto aos governos da Europa desenvolvida, mas, felizmente, não logrou êxito em sua proposta. Tantos anos depois, a Inglaterra inverte a equação e vende seu lixo. O governo Lula já tarda em mandar de volta os 99 containers…
Exceção gaúcha?
O PT do Rio Grande do Sul acaba de demonstrar que nem tudo está perdido em termos de independência partidária. Lançou a pré-candidatura do ministro Tarso Genro ao governo do estado como sinal de que não haverá possibilidade de apoiar o provável candidato do PMDB, José Fogaça, nem qualquer outro aliado. Importa saber se a atitude dos gaúchos é exceção ou se começa a fazer regra, não admitindo vender sua sobrevivência em troca de um incerto apoio de outros partidos à candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Se a moda pega entre os companheiros de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e outros estados, eles mostrarão estar vivos, mesmo contestando seu chefe e arriscando-se a ser derrotados. Mas lutando. Cruzar os braços e engolir Ciro Gomes, Hélio Costa, Sérgio Cabral, Eduardo Campos, Cid Gomes e outros. em nome de uma discutível eleição de Dilma Rousseff pode equivaler a comprar passaporte para drástica redução de suas bancadas no Congresso.
Fonte: Tribuna da Imprensa